Dois é melhor que um

Não foi você. Foi aquele seu olhar, tão diferente, destacando-se em meio a todos naquela manhã matinal, início de ano. Início de uma vida nova, de feridas cicatrizadas e o coração disposto. Antes fosse o fato de você arrasar com todas, arrancar suspiros e podendo ter quantas quisesse nas mãos. Não foi você. Coinscidência, destino, acaso, veja só! Eu havia chamado sua atenção, escondida, fugida. Tão atitude minha, acanhada, aparentemente tímida, pouco falante. Mas mesmo assim, você me achou. Logo eu, que sempre ouvia piadinhas do tipo "você assim tão pequena, some no meio da multidão" ou "é tão pequena que quase ninguém acha no meio do povo". Mas você me achou. De certo modo, mesmo que distante,  você me chamou a atenção, embora o ar de garanhão não me atraísse tanto e me fizesse manter toda a distância. Caras assim me davam náuseas, pouco me interessavam e pelo que sei de rapazes assim, nenhum relacionamento perdura com eles - pelo menos com os que conheço. Desconheço um tipo desse que largou a vida de pegador pra se estabilizar com uma moça só: respeitável, exemplar, namorável e que se desse o valor.

Então recuei, até parecia que não havia nada de coração aberto e apto para deixar entrar o primeiro que prendesse minha atenção por um instante, fazendo-o acelerar e parar ao mesmo tempo, como combinei comigo mesma. Talvez tivesse o desdenhado por justamente ter percebido de primeira que, mesmo negando: ele havia me fisgado. Não foi você, foi a composição que o trouxe pra mim. O sorriso espontâneo, ah, você sabe que meu ponto fraco é esse sorriso. Eu que antes criava um amor por quem não conhecia, simplesmente por sentir o gosto de amar - mesmo que ilusioriamente -, escrevia e preparava o lugar daquele cujo eu esperava, sonhava e idealizava: meu tão sonhado amor. Embora não tivesse rosto definido nos meus sonhos noturnos, quando te vi eu pude reconhecer: não era com algum conhecido que você parecia, denominei-o como o protagonista dos meus sonhos. Coisa maluca e confusa essa, não? Clichê também, sonhar com o amor da sua vida e semanas depois encontrá-lo por aí. E como se a vida fosse um jogo, ela jogou as regras: te ganhar. Não como prêmio, ou objeto, mas como pessoa, ganhar seu  coração, ganhar você, ganhar a gente. E quem diria que de tanto perder nos joguinhos de tabuleiros com os amigos eu fosse ser do tipo que ao menos uma vez tivesse obtido sorte no amor? Outra ironia essa. Acreditava que pra mim seria uma chance em um milhão. Nunca fui de acreditar que teria sorte nessas coisas. Sem sorte nos jogos, sem sorte no amor. Foi preciso agarrar a oportunidade. Ou, quem sabe, dessa vez o amor tivesse se agarrado a mim. Te ganhei, olha só, a vida tinha dado uma trégua e decidiu por fim me dar algo. Mas pedi a ela que não te tirasse de mim, que não levasse você depois que eu me apegasse e ficasse totalmente entregue. E continuo pedindo, noite pós noite.

Parece que foi ontem que tudo começou, e eu lembro de tudo, de todas as sensações, dos detalhes. E com tudo o que temos hoje, descobrimos e sonhamos, que esse sentimento seja recíproco cada vez mais, que o encanto não se quebre e que a ânsia de estar junto só aumente, a cada dia. Que não mudemos nosso jeito um com um outro e mantenha sempre o cuidado e a atenção necessária que isso não aconteça. Que continuemos a querer estar na presença um do outro, cuidando, mimando, amando e principalmente que não perca o interesse nos detalhes mais simples, que são os que mais contam (ao menos pra mim). Que sempre busquemos inovar, não deixando a mesmice nos atingir. E as brigas não sejam maiores que o que sentimos, e as reconcilições só nos fortaleça mais. Que só cresça esse amor, um pouquinho mais a cada momento. Que a saudade nos leve para o mesmo caminho, no intuito de se encontrar e que a gente não se perca, por nada. e que a nossa cumplicidade, companheirismo e amizade não se enfraqueça, só fortaleça. Porque dois é bem melhor que um. E nós dois, juntos, é melhor ainda.

8 months ♥