domingo, 5 de fevereiro de 2012

Pra chama não se apagar

Tinha decretado o começo da guerra sem nem batalha pra aquecimento. Assim, na fúria, atirava pratos e tudo o que via pela frente pra descarregar a raiva que sentia, e como se não bastasse, a raiva dele, de mim mesma e a mágoa: dele, de mim, das palavras e do momento que mais parecia ter pousado uma nuvem negra e carregada naquele cômodo. O que eu podia fazer? Aliás, o que mais tinha que falar pra ser compreendida? E céus, quem conseguia me entender afinal? Me deixava levar pela impulsividade e pela agressividade das feridas que quanto mais eu tentava esconder que estavam sendo cutucadas a fundo, mais doía e deixava-se em exposição. O tempo ruim lá fora pairava sobre a cidade, e por dentro de nós também. As discussões e o querer de ser o lado com a razão, sendo que tudo o que não éramos capazes de enxergar era o orgulho atiçando e prolongando a briga. 

Tinha raiva de ter raiva dele. Quer dizer, na verdade, tinha raiva de não conseguir odiá-lo sem ser consumida pelo amor que sentia pelo próprio. E tentava proferir palavras pesadas pra que, assim como estava atingida, também o atingisse e o fizesse sentir a mágoa que eu sentia naquela situação incerta. E o desfexo todos poderiam presumir sem muito esforço: a briga sendo finalizada pelos sentimentos mais negativos possíveis e um dos dois indo embora. E, apesar de detestar as atitudes egoístas dele de não me compreender como deveria, eu só queria fazer tudo aquilo acabar, sem que tudo acabasse com ele ou eu indo embora de vez. E já que estávamos em guerra, há aquele ditado que diz: "onde há guerra, há paz" e com toda a raiva que ambos estávamos sentindo, era o amor que nos mantinham quentes e acesos. Porque, quietude nunca foi o meu forte, e ser frio, não era pra ele. Era até interessante esses choques térmicos que tínhamos, essa nossa junção de fogo e vento: quanto mais soprávamos, mais o fogo se intensificava. Era como se causássemos um incêndio.

Era como se fôssemos atraídos por essa força da gravidade, em manter essa coisa que tínhamos; a mistura de amor e ódio, embora o amor fosse mais forte. Que se era ruim com ele, pior ainda seria sem. E se fosse pra silenciar esse nosso atrito e deixar tudo no gelo, então que fosse turbulento e quente, só pra que a nossa chama não se apagasse. E se fosse para estar certa, sem ele... sem ele pra me aplaudir e admitir, então que eu estivesse errada, mas com ele pra acabar tudo com um beijo, e que o desejo só mantesse acesa essa ligação intensa que temos. Porque, Deus, como eu detesto ser tão fraca a ponto de esquecer de tudo, do mundo, do meu orgulho se em um momento de conflito ele me pega e me olha daquele jeito. E é difícil admitir o fato de que, forte ou não, minha muralha se destrói e ele consegue chegar até mim, por mais relutante que eu tente ser. É isso, eu não consigo relutar, com todo o orgulho imenso que eu tenho. Parece que não é tão imenso assim. Não com ele. Que enfraquecendo ou não, explodindo ou atirando pratos e palavras duras, é essa chama que não pode apagar. Ela só não pode apagar!

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"Dê atenção ao que tem sintonia com você. E toque sua vida, sem agredir."

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