segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Cada um no seu lugar

Tinha me passado pela cabeça a ideia de quem sabe, num momento de fraqueza, te ligar e dizer o quão injusto é seguir assim tão friamente como se nunca estivéssemos nos aquecido nas noites de inverno. Pelo menos não é mais assim, agora. Como a coragem me faltou e o orgulho alarmou, não o fiz. Agora eu poderia dizer que a vida seria mais aproveitável e arriscaria dizer que é melhor sem você, embora não seja o que meu coração de fato pensa; ou melhor, sente. Eu escrevi alguns rascunhos, sabe? Pra te mandar, mas não iria me dar o luxo de bater na sua porta para entregá-los. Acho que você deve saber que desde cedo tomei gosto pela escrita e me expresso melhor por ela. Tentei e-mail, mas você sabe que redes sociais sempre me frustraram, e manias um pouco à moda antiga sempre fizeram parte de mim, como a preferência de escrever cartas. Tudo bem, você nunca deu mesmo muita importância pra essas coisas, alíás, você não dava muita importância pra qualquer coisa que fosse. Eu era uma delas, não era? Você sempre dizia que manter o gelo era o segredo pra não demonstrar demais, que sentimentalismo era coisa para fracos e servia melhor em atores de drama. Eu admirava essa sua sinceridade, embora sempre me machucasse essa acidez que você usava nas palavras. E foi com essa frieza que você deixou um "tanto faz" flutuando no ar quando resolvi juntar minhas coisas e sair a toda do seu apartamento. Sem nenhum drama, me acompanhou até a porta. Você sempre detestou dramas. Eu até que aprendi com você, sabia? Eu aprendi a esconder todo o sentimentalismo que eu tinha por você e o derramava nas cartas que nunca foram entregues, por medo de você rir do meu romantismo. Mas é como dizem: mulher apaixonada é impossível conter. Quem sabe eu fosse louca por você, a ponto de aproveitar noites de insônia pra descrever tudo o que tinha dentro de mim. Coisas que eu nunca te disse por medo, por raiva de não receber nada em troca. Olha que engraçado essa junção de amor e ódio que sentíamos. Eu odiei você por tantas vezes, por tantas brigas incertas e palavras atiradas para machucar um ao outro. Já havia virado rotina, você lembra? Lembra de como você deixava bem claro que não fazia diferença pra você me ver saindo ou entrando pela sua porta? Até que um dia eu saí, e não voltei mais.

Apesar de tudo, eu insistia em provar pra você - como tantas vezes - que você estava errado e me perder não seria muito inteligente. Você querendo - sempre - manter o machismo e individualismo só pra não ter que ceder. Maldito orgulho. Maldita independência e individualismo que separou a gente. Maldito seja você. Maldita seja eu, que acreditei que poderia conseguir mostrar pra você que do seu jeito torto e errado, ainda sim, você se importava. E pra quê? Por que tinha que ser eu a me mover, a puxar o bonde, a tomar a iniciativa? Que cilada foi essa que o amor me colocou, logo me colocar nos seus braços. Talvez eu fosse certa demais pra você que sempre esteve acostumado com as erradas. A minha última certeza havia se esgotado, era como gritar para o nada esperando uma resposta. Aonde é que você tava pra me responder, pra me corresponder? Tudo o que eu mais queria era ter certeza sobre o amor, mas você fez com que a minha última defesa se esgotasse. Quem passou por aquela porta foi eu, mas quem fugiu esse tempo todo foi você. Quem sabe você gostasse mesmo de mim, um pouquinho que seja. Mas não me mostrou que eu estava certa, e agora tanto faz também. Já não importa se você se importava, e não creio que você apareça na minha porta para dizer o que eu sempre esperei que você dissesse. Eu desisti, você venceu, mais uma vez. Fez eu desistir de nós, se é que existiu nós, já que você sempre usou tanto o singular pra si. Não sei se mandarei esta carta a você, não sei mais se você continua no mesmo endereço, naquele mesmo apartamento com o cheiro impregnado de bebida e cigarro. Ou se você perde metade do dia dormindo. Ou se ainda toca violão pra se distrair quando está bravo. Pra falar a verdade, não sei mais quase nada de você. E me resta dúvidas ainda, apesar de ser quase certo que você talvez não se lembre mais de mim, ou de que hoje é o meu aniversário. Você sempre confundiu as datas. Mas não importa. 

Eu conheci um rapaz, na verdade, um homem. Ele é um verdadeiro cavalheiro, faz de tudo pra me ver bem. E falando nisso, estou bem, obrigada. Ando muito bem. Do seu jeito rude, ainda sei que se fosse um tempo atrás, perguntaria se eu já tomei meu remédio para insônia. Devo dizer que não preciso mais deles, já não tenho mais tanta dificuldade em dormir e faz uns dois meses que consigo dormir noites consecultivas. Vez ou outra o sono tarda a vir, mas não chego a perder a noite; assim como perdi você, perdi seu contato, perdi meu coração. Mas ele foi encontrado, e se encontra bem também. Espero que você também tenha se encontrado, e não tenha se perdido e perdido tanto o que realmente importava. Ah, e espero que tenha mudado seus hábitos; sempre se alimentando tão mal, só com porcarias. Ou vivendo de cafeína. Enfim, escrevo na finalidade de dizer que mesmo cada um no seu lugar, espero que você se lembre de mim, ao menos uma vez, mesmo que rara. Só pra eu não sentir como se não tivesse significado nada pra você e não ter feito sequer uma mínima diferença na sua vida. Boa sorte pra nós. Ah, desculpa. Não sei se devo usar plural referindo-se a gente. Então boa sorte pra você, e pra mim.

2 comentários:

  1. Olá, descobri seu blog hoje, gostei muito. Me identifico bastante com textos desse tipo. Voltarei sempre. Ganhou uma seguidora. rs'

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  2. Ah, que bom ler isso, linda! Espero que continue vindo e se identificando com os textos. =)

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"Dê atenção ao que tem sintonia com você. E toque sua vida, sem agredir."

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