terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Porque ela se foi

Olha o quanto você se arrepende de tê-la deixado ir enquanto se perde olhando o brilho do sorriso dela através de uma fotografia que você ainda guarda junto das cartas que ela escreveu para você. Sabe-se lá porquê você ainda as guarda, mas rasgá-las ou livrar-se das palavras que preenchiam aquelas folhas em branco não apagará o poder que elas têm sobre você, não é mesmo? Você sabe exatamente o que ela disse em cada uma, sempre ressaltando o quanto você significava na vida dela. Ela com o sangue quente acabou por fim indo embora e cruzando aquela porta carregando suas coisas e aquele sorriso não brilhava mais em seu rosto. Aliás, quando foi a última vez que ela sorriu sem você por perto? Desconheço. Talvez depois da sua brusca partida, ela não tenha mais conseguido. Pelo menos não por um bom tempo. A garganta cheia de nó, desfazendo-se em frívulas lágrimas a sufocava. Como ela odiava isso. No auge da sua queda, mesmo no chão sempre quis ser capaz de mostrar que se levantava sozinha por provar independência e talvez uma força na qual ela gostaria de ter mais do que realmente tinha. Você provavelmente também não deve estar com a mesma espontâneadade ao sorrir, tal essa que só mesmo ela poderia causar; ela era quem fazia você se sentir pequeno perto da grandiosidade do carisma que ela tinha e da facilidade de fazê-lo ser o melhor que podia ser. Mesmo do seu jeito, mesmo que ela nunca tenha dito, ela o amava e o aceitava. Apesar de aparentemente conseguir levar a vida adiante sem ela, sem saber notícias dela - simplesmente saber somente que ainda está viva, e olhe lá - é durante a noite que dói em você sim, mesmo não admitindo, a ausência dela em seus dias. Porque, cá entre nós, não importa quantas mulheres existam nesse mundo, nenhuma conseguirá ser o que ela se tornou pra você. E mesmo longe, desde aquela noite ela nunca foi embora realmente, porque sempre esteve na sua cabeça, e ficou presa no seu coração. Provavelmente você também deve ter ficado lá no coração dela também. 

Pela manhã se dá conta que mais um dia pela frente será incompleto por faltar a presença dela torrando a sua paciência propositalmente por puro mérito em fazer com que você também ficasse terno, após trincar os dentes com tamanha implicância da parte dela. Talvez ela também se sinta mal com a falta que você faz nos dias dela, e as saudades suas seja a única lembrança que enche a vida dela de você. Não importa o que você faça, rapaz. Seu orgulho, a superficialidade e naturalidade em dizer que está levando tudo numa boa não mudará o fato de que você sem ela é vazio e sente-se assim. Você só não queria sofrer, assim como ela, mas não adianta tentar se conformar com essa mentira. São parecidos nesse ponto, como em tantos outros. Até mesmo no ponto final borrado nessa história de vocês dois. Não se supera uma história dessas, ainda mais quando a protagonista mexe tanto ainda com você. Nas luzes do dia pode ser que você se saia bem nas distrações que recebe, mas é na calada da noite que a saudade é a única presença que te enche dela, que te enche do sorriso dela na sua cabeça. Aquele sorriso meio torto com um leve traço de covinha no canto que você dizia amar por ser o causador. E se pegava admirando cada detalhe do seu rosto, admirava porque sabia que igual a ela, você não acharia outra. E se gabava enquanto a tinha em mãos, por ela ser extraordinariamente incrível e não era do tipo que se entregaria para qualquer um. Mas se entregou só pra você, era só sua, rapaz. E como era!

Agora você a reencontra distraída com o celular na mão do outro lado da rua e lembra que sempre a repreendia por ser tão avoada e distraída com essas coisas, expondo-se a possíveis assaltos. Podia imaginar ela falando: "eu sei, eu fico de olho" ou "eu sei me cuidar", sempre com um ar de independência que você também admirava. Questionava-se por onde ela tem andado todos os dias que esteve fora do seu alcance, e se sua distração rotineira passou a ser repreendida por outro. Ou melhor, se tinha outro de olho nela por você, e se alguém tomava de conta dela pra não deixá-la se perder. Sorria ao perceber o modo com que se preocupava com ela, como se fosse uma garotinha indefesa. Mas não era? Sem ele, quem é que censurava as roupas curtas pra não chamar a atenção dos outros homens abusados e pervertidos, e até os que só a admiravam? Seu ciúmes sempre a assegurava de que ele tinha medo de perdê-la para outro, mesmo que ele desviasse a confissão. E agora se vê segurando o impulso de correr até ela e assustá-la de propósito com a chegada repentina, o que logo em seguida de alguns tapinhas ela abrisse um largo sorriso e o abraçasse. Ele não queria ter que segurar o impulso em correr pra ela; ele só queria correr pra segurar ela, isso sim. Será que ela também estremeceria se o visse do outro lado da rua fitando-a como se não existesse mais ninguém ao seu redor? Mesmo depois de tanto tempo ela ainda conseguia fazê-lo estremecer, o que significava que ela ainda estava tão mais presente dentro dele que nem mesmo as desculpas de desviá-la dos pensamentos a tirava deles. A vontade de abraçá-la forte até os ossinhos frágeis estalarem igual fazia nas tardes de sábados quando se isolava de tudo e todos com ela no seu quarto pulsava dentro dele. Pensava se arriscava chamá-la e tentar um "oi, quanto tempo" como desculpa pra ouvir a voz dela mais uma vez depois do silêncio que se apoderou dos dois durante tanto tempo. E apesar do silêncio perturbador, olhá-la de longe nunca lhe pareceu tão confortante e aliviador antes. Por que não deixava o transe e o orgulho de lado para alertá-la que estava na rua com o celular exposto a assaltos? Por que não correu para agarrá-la, mesmo que a assustasse? Mesmo que tivesse medo da rejeição, não era possível que você acredite que ela o rejeitaria. Se ao menos você soubesse o quanto ela deseja isso todas as noites antes de dormir ao fazer o mesmo que você: lembrar. Se ao menos você soubesse que ela esperava por alguma notícia sua, algum sinal de que você precisava ter ela no seu dia pra ficar tudo bem. Quem sabe você não pensasse duas vezes antes de deixar ela ir embora, outra vez.

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"Dê atenção ao que tem sintonia com você. E toque sua vida, sem agredir."

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