sábado, 3 de setembro de 2011

Nem tão (so)risos

Por vezes viro para mim mesma enquanto isento a melancolia e a angústia um pouco e afirmo que dou conta dos recados. Dou férias, permito que elas não me apareçam tamcedo. Mas essas coisas não são a gente que tem o poder de controlar. A tristeza não bate na porta pra avisar que ela está de volta ou que chegou; ela simplesmente entra de fininho, intrusa e estremece tudo. Lanço ao vento meus zombos para a angústia proclamando: eu posso ser forte, eu sou forte e posso manipular as minhas dores para que não transpareçam na hora errada. Quão tola sou por achar que isso funciona? E mentir pra mim mesma sempre foi atitude tão estúpida minha. Mas sempre fui teimosa, nunca quis parecer fraca pra quem quer que fosse, chorar na frente das pessoas era lá a última das coisas que faço - e se faço - pra não parecer a moça abalável e fracassada que nem sequer o choro consegue segurar. Penso nessas horas tão insuportáveis cujo me encontro em estado de carência extrema que, no fundo, eu não seja tão durona assim como tento mostrar aos que estão fora. Quem sabe eles pensem mesmo que sou inabalável, quem dirá forte e não releve nada; a contadora de piadas e espalhadora de risos baratos em pról da felicidade alheia, quando na verdade sou eu quem precise sempre de algum palhaço vez ou outra me passando um pouco de bom humor e traga em uma sacola alguns risos pra me doar.

É difícil fazer graça quando não se vê graça em estar com as lágrimas fervilhando nos olhos até transbordarem. Sou dessas que não implora a atenção de ninguém, tampouco faz drama pra que uma rodinha de pessoas se formem a minha volta para que eu mostre que preciso de um ombro pra encostar a cabeça e desabafar meus problemas. Longe de mim forçar alguém a me ouvir e fingir preocupação só por educação. Há quem diga que sou do tipo que prefere sofrer calada a contar à Deus e o mundo que tô terrivelmente péssima. À Deus, digo o que ele já sabe e acredito que Ele se encarrega de me confortar do jeito que pode; já os outros, bem, esses aí não sei se devo contar como doadores de solidariedade. Sou um pouco mais fechada, só percebe minhas angústias e tristezas quem me vê além do que eu mostro. Esses sabem quando preciso de colo. Mas não sei se posso contar como muito quem esteja aqui quando isso ocorre. Geralmente não uso plural. Geralmente só percebem minha quietisse, já que costumo ser sempre tão estrapolante e falante que quando me calo até estranham; mas nada que os façam ver que meu silêncio é só o grito da minha tristeza. Me mantenho fechada porque não gosto de encher ninguém, mas se vir alguém que passe segurança e demonstre importância, aí eu me atiro e choro feito criança desconsolada pra dissipar o que acumulo dentro de mim em dias assim.

Choro, choro até soluçar, e percebo que choro ainda mais quando me perguntam o que eu tenho. Eu tenho tudo, pra falar a verdade: tenho a ausência de pessoas, tenho a carência incurável, tenho a mania de me sobrecarregar com tristezas alheias como se fossem minhas e me atingem mais do que quem originalmente a carrega; dói em mim mais a dor dos outros do que as minhas próprias. Mas acho que me sobrecarrega ainda mais é ter que aguentar as duas dores: as minhas e as alheias. O peso vem duas vezes. Me distancio, mas na esperança de que no meio de tanta gente que não olha pros lados, alguém me veja preta e branca e ofereça um pouco de cor e cole um sorriso no meu rosto mesmo que na marra, só por gostar de me ver sorrindo. Em dias assim é que percebo que, parece não ter ninguém por perto quando o grito sai pela garganta ao pedir ajuda. Se sou eu que sempre estou percebendo a quietisse dos outros, buscando entretê-los e fazê-los se senti-los seguros, quem é que faz isso quando acontece o contrário? Cadê quem me desminta quando murmuro estar bem? Que eu esteja sempre à disposição de quem precise não significa que automaticamente estarão por perto quando eu estiver precisando, eu sei. Eu já devia ter me acostumado com essa coisa de me dispor mais do que posso e cuidar mais dos outros do que de mim mesma, mas às vezes seria bom receber essa distribuição quando necessito. Às vezes esqueço que não é todo mundo que se importa com os problemas alheios e às vezes mais se aproxima quem quer usá-los contra você do que quem se dispõe pra ajudar ou confortar. Poucos sabem, mas não sou só sorrisos.

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"Dê atenção ao que tem sintonia com você. E toque sua vida, sem agredir."

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