quinta-feira, 7 de julho de 2011

À espera pouco resultante

Lá estava ela, sentada no sofá empacotada por casacos, meias, cachecol e tudo o que a livrasse desse frio que invade a casa - e como se não bastasse os panos, invade além deles; o coração. Perambula pela sala, tentando disfarçar para si mesma que não é nele que está pensando, que procura saber por onde anda e em principal com que companhia. Que mesmo estando basicamente aquecida, nada até agora foi suficiente para dissipar o frio e a tensão que seu corpo sente procurando por ele. E cadê ele? Entrando em conflito, a mente diz o óbvio, o que no fundo o coração já saiba de fato; mas é fraco, bobo, inconsequente, se engana e não aceita que a mente esteja certa quando ele só quer se aquecido por quem não está presente de forma alguma; só vago, intrometido, persistente no pensamento masoquista. O silêncio a atinge feito flecha invisível; ausência de palavras consoladoras para o mau que sentia e apertava causando nó na garganta: a saudade. Ouvia-se só os ponteiros do relógio exposto na parede indicando já ser tarde da noite, já atravessando a madrugada. Mas ela ainda queria acreditar que logo ouviria as batidas abafadas na sua porta e do outro lado: ele. Que quando aparecia, jogava uma desculpa só para não perdê-la de vista, na garantia de encontrá-la no mesmo estado em que a deixava quando partia: intacta, incompleta, iludida até. Sentia o nó apertar até mesmo quando ele estava presente, como quem não quer nada, fraquejando-a sempre com as palavras superficias e bajuladoras; convincentes para quem queria um pretexto para continuar a acreditar no que já nem sentido fazia. Que ela era dele, muitos já sabiam de cór e salteado, mas sempre pairava a dúvida quando a questão era se ele também a pertencia por completo sem vestígio espalhado para alguma fulana ou ciclana em algum lugar que não fosse o coração dela. Sua vontade era de prendê-lo, de fazê-lo sentir tudo demasiadamente o que ela sentia cada vez que o perdia de vista. Chegava a ser injusta tamanha covardia essa de deixá-la plantada por horas em frente ao telefone esperando tocar, e esperando que ele estivesse do outro lado da linha explicando o porquê do sumiço durante o dia, e uma desculpa para não se juntar a ela durante a noite. E lhe avisavam constantemente o quão boba ela estava sendo em insistir com essa fantasia absurda de querê-lo sabendo que ele não lhe pertencia - nunca pertenceu também - e tampouco pertenceria. E mesmo sabendo disso, se contentava com as migalhas de afeto que ele dispunha a oferecer quando não tinha outro lugar para pousar a não ser o colo dela que sempre estava ali à sua disposição. E pra quê? Pra em troca, sempre estar parada na mesma sala, olhando para o nada esperando por ele, que sequer pensava na hipótese de que ela o esperava e ansiava sua vinda depressa, calorosa, imediata? Sendo que, tendo muitos outros colos por aí, ela era somente mais uma que supria sua carência quando a necessidade apertava e sua única escolha alcansável era ela? Só uma opção, ela merecia ser só uma opção? E o que ela podia fazer? Gritar, chorar, pedir que ele ficasse nem que fosse para isolá-la do frio e vazio que sentia? Por que ela se auto-mutilava esperando por algo que não lhe pertence? Talvez fosse porque, no meio disso tudo, ela ainda conseguia sentir seu coração um pouco acolhido, mesmo que não de verdade; só para ela esvaziar um pouco a solidão que era a ausência dele. Mas estava certa de que, mais vazia que era estar sem ele, era saber que mesmo por perto, cheia e completa era a última coisa que ele a fazia se sentir. Se não enganada, incontáveis vezes.

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"Dê atenção ao que tem sintonia com você. E toque sua vida, sem agredir."

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