Colo

 Na monotonia dos dias arrastados, continuo fazendo das minhas ilusões as fontes das minhas distrações quando o silêncio do tédio e melancolia grita e transborda a pedido que se esvaia de modo que se possa preencher o vazio do que não se pode alcançar há menos que eu imagine. Que enquanto muitos querem a atenção por puro prazer de se sentirem amados mais por dever do que por vontade dos que estão fora, faço questão de precisar de atenção para suprir a carência inata que tenho até mesmo quando sou acolhida por carinhos e afeições de quem está dentro. Que enquanto a procura deles são por muitos, me sujeito a aceitar o pouco, com a condição de ser verdadeiro e estável suficiente para me trazer a paz que preciso. E preciso de colo, daqueles aconchegantes, com gosto de fim de tarde em frente a lareira, debaixo de algum edredom tão quente quanto o calor do corpo colado, junto. Preciso do colo de quem não pondera a vontade de estar por perto, de quem tem pressa em saciar a sede e matar a saudade incômoda da presença do corpo, da alma e do coração. Preciso do cuidado extremo, da necessidade de consolo, do sussuro ao pé do ouvido e do choque que causa o arrepio. Da brincadeira e do riso inocente ao desejo da carne, e que sintonia. O colo que não abandona, que deita junto, de mãos dadas, em dias frios para aquecer. O colo que transmite harmonia, segurança e acomoda. Pra quem não tinha a intenção de sentir nada, estou sentindo é muito. E vem sempre aquele frio na barriga, o frio que sinto quando ouço seu nome. Quero colo, quero mesmo; mas não o que cansa, o que enjoa, o que desgasta. Quero aquele que vai, mas sempre volta. Sem prender, sem amarrar; que fique por vontade, por necessidade, por precisão. Quero colo pra chorar, daqueles que não precisará pensar em nada de consolador para dizer por não saber como lidar com as minhas lágrimas, mas que faça do silêncio a tradução delas e que esse sim possa confortar e consolar. Quero bom astral, estrelas cadentes e pedidos a serem realizados. E serão. Quero o cheiro que fica na roupa depois do abraço apertado. Quero colo, mas tem que ser o seu; sem antescedentes, sem prazo de validade. Com intensidade incondicional. Com promessas intencionalmente propagadas a se cumprirem. Quero colo pela troca de afeto, não pela troca de igual pra igual, da cobrança ou qualquer que seja a troca que proporcione certa rivalidade. Quero simplicidade, cumplicidade, e sobretudo, um colo pra descansar.