domingo, 10 de julho de 2011

Ao som silencioso


Pega a garrafa de wisky em cima da mesa, senta aqui do meu lado, liga o som e vamos nos perder um pouco. Deixa a música tocando aí, e fiquemos em silêncio, permitindo somente que a melodia nos ligue na sintonia e que a letra traduza nosso silêncio momentâneo. Deixe que os olhos se fechem, acompanhando a batida, sincronizando nossos corações; aquietando minuciosamente. Senta do meu lado, observa o meu silêncio, me introduza no teu e assim fiquemos: prestando atenção apenas na música que passa como todo um filme do nosso encontro. Tomo um gole do wisky enquanto você me observa atenciosamente, libertando qualquer tipo de preocupação que não seja só nós, a sós, interpretando olhares; adivinhando desejos. Pouso a cabeça no seu peito, enquanto recebo afago no cabelo e acabo por me parecer menina manhosa. E acaba que por manha ganho um pouco mais de você, pelo menos enquanto a música ainda está tocando. E teu cheiro impregnado na minha roupa permanece quando você se afasta por instante; olho chorosa a pedido que volte e sente novamente ao meu lado, pelo menos enquanto a música ainda toca. 

Você provoca, ameaça ir embora, enquanto procuro indiretamente qualquer desculpa conveniente para que você fique. Me olha como quem não quer nada, entrelaça meus dedos, me beija e se afasta. Deixa mensagens subliminares pelo ar, no som que continua a tocar e permite que eu me faça por completa enquanto tua presença me invade de todas as formas possíveis - e até impossíveis. Faz jogo duro só pra ver se vou me entregar à vontade de tomá-lo em meus braços, mas sou orgulhosa, acabo por recuar só para vê-lo não se aguentar e cair nas próprias provocações só para voltar correndo e entregar o jogo assim: tomando um gole do meu wisky como quem só queria uma desculpa esfarrapada para permanecer ali comigo. É marrento, genioso, orgulhoso; eu todinha. Mas não, comigo não, usa as características mais fortes por puro charme e sabe que me ganha. Me ganha enquanto a música toca, enquanto beberico mais um ou dois gole do wisky e dispenso o copo para segurá-lo por mais tempo ali, sentado ao meu lado no chão do quarto. 

Pondera as palavras prestes a sair da boca, preste a pronunciá-las, mas engole e com um sorriso de canto, me retoma nos braços como quem já sabe que é só disso que preciso e peço, pelo menos enquanto aquela música (a nossa música) toca e prende as palavras só para não ser interrompida. Sinto seu hálito de bebida recém tomada, forte, quente, mas não me importo; beijo-lhe suave, sem pressa. Pressa pra quê? A música ainda está pela metade, e o beijo contínuo se torna doce mesmo com o gosto amargo do álcool, só por manter o gosto que é só nosso por lei. Então me balança, sinto o aperto receioso quando a música atinge seus minutos finais; olho aflita, soa também o adeus que não quero dar. Sinto sua mão em busca da minha, e no último instante, sinto o aperto confortante dos braços acolhedor. Me surpreendo, o vejo derramar mais uma rodada de wisky no copo, o admiro tomar mais um gole que deixa escapar algumas gotas no canto da boca - deslizando a caminho do queixo; me olha com um sorriso malicioso, consequentemente me beija e não precisa dizer o que eu já havia entendido. A música acabaria, mas nós ainda nos materíamos ali, e se fosse preciso, no silêncio ao meu som preferido: dos nossos corações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Dê atenção ao que tem sintonia com você. E toque sua vida, sem agredir."

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...