quinta-feira, 28 de julho de 2011

Desfazendo

Então é isso: talvez em algum momento chegue mesmo a hora de se desfazer daquelas velhas tranqueiras que a gente insiste em guardar no fundo da gaveta, empoeiradas como as lembranças de dias ruins; como aquela chuva repentina num dia de sol fazendo com que seu passeio fosse adiado para quem sabe, depois que a chuva passasse e o tempo ficasse bom, desse para remarcar. Você guarda também uma coleção de fotografias antigas, versinhos no canto do caderno, a letra um pouco diferente, meio engarranchada e chega a ser motivo pra arrancar aquele sorriso distraído no canto da boca ao lembrar que tempo bom era o tempo em que ao invés de se perder em um rio de insegurança e medo de perder quem se gosta, no passado a única perda de tempo era criar castelos imaginários abrigando sonhos e planos futuros; aparentemente não havia espaço para se estressar no quanto as coisas poderiam de uma hora pra outra dar erradas quando tudo estivesse dando certo. Você ainda consegue se lembrar daquelas pessoas que conheceu há um tempo, na rotina que reclamava e na saudade que sente das situações inusitadas que vivenciou que rendeu boas histórias pra contar. Relembrar é bom, é viver, é voltar no tempo em que pelo menos no instante em que se lembra, o tempo pára, as cenas voltam à cabeça e você percebe o quanto as coisas mudaram quando até mesmo aquelas lembranças ruins, dos dias difíceis, pessoas desagradáveis, aparecem à tona e você sorri de uma situação que já te fez chorar e que já machucou tanto. Isso acontece quando, involuntariamente, você passa a se desfazer de todas as controvérsias desnecessárias que só ocupavam lugar dentro da cabeça, do coração e no tempo que corre cada vez mais despreocupado em nos deixar pra trás ou não; se não acompanhar acaba sendo deixado pra trás mesmo. Há aquela música que você deu "pause" e parou de ouvir por um tempo, a música que você adorava, mas por fazer você se lembrar de alguém que já te deu motivos para se magoar, você deixa de ouvir pra não ter que lembrar e remoer velhas feridas. Há aquela roupa que mesmo não servindo mais, você guarda porque era a sua favorita. Aquela escola que estudou e a boa época que foi essa fase e apesar das crises, veio o amadurecimento precoce ou quem sabe, fosse só os reflexos do crescimento e o que estava por vir com os anos que se seguiria, deixando claro que nem tudo seria só castelos de sonhos; às vezes castelos feitos de areia tendem a se esvoaçarem com o vento. Você se lembra daquele natal onde tudo o que queria era se jogar na companhia de bons amigos e celebrar a prosperidade e a perspectiva do novo ano que estava por vir e a lista de desejos que fizera para realizar. Onde mudanças também estava a caminho, mas você queria acreditar que tudo continuaria do jeito que estava, pois juras de amor e promessas de "tudo vai ser pra sempre" às vezes duram só uma noite. Aprende que nada permanece do mesmo jeito de ontem, anteontem, mês passado e até mesmo, em principal, de um ano atrás. É inevitável, tudo muda, a gente muda, faz parte. Percebe que às vezes, você se tranforma naquilo que disse que nunca seria. Você ousa mais, começando em se desfazer daquelas cartas não entregues que você já escreveu durante a noite. Se desapega do que se foi, do que não era pra ser e do que não lhe pertencia. Tira da gaveta as roupas que não serve mais, que só ocupava espaço e substitui por roupas novas, assim como também deixa de lado as coisas ruins do passado e joga fora junto com as coisas velhas que só impediam de deixar coisas novas tomar lugar. Com o tempo é imprescindível mesmo não se desfazer dessas tranqueiras que só desgastam nosso tempo. Recobra a memória de que, o que é bom a gente guarda no coração, desnecessita a obrigação de ter que guardar objeto como garantia de lembrança. De repente você fuça aquela playlist antiga, e ouve músicas antigas, ainda continuam sendo as suas preferidas e são até melhores que as atuais. Mas, em especial, dá "play" naquela que você havia parado de ouvir por causa de alguém. Porém, se dá conta de que, nenhuma emoção negativa lhe invade, não há razão para não ouví-la, até mesmo se encaixa em uma situação recente. Isso acontece quando você se desfaz dessas besteiras de ficar se prendendo à velhas mágoas, deixando isso corroer a positividade dentro da gente. Se esforça pra criar castelos mais sólidos para abrigar seus sonhos, onde vento nenhum possa levá-los para longe, e que medo algum possa invadir. Despreocupa, deixe estar, ninguém vai embora sem que alguém possa vir e preencher o vazio deixado; não que haja substituição, mas haja complemento. Conhecer novos lugares, novas pessoas, novos sabores, às vezes faz um bem pra alma, pro coração. Procura uma boa estadia, abre a porta da casa pra quem quer entrar e ficar. Os que estão de visita você só cumprimenta. É bom deixar pra trás alguns medos bobos, às vezes eles podem se tornar perigosos e até se concretizarem. Insegurança só atormenta o coração: se acalma, sorriso bonito é aquele que já carregou muitas lágrimas. Mas não força não, pra mau de um coração receioso, há de ter alguém que cure e segure. Que andar pra frente é a regra essencial da vida, pois quem olha muito pra trás acaba tropeçando. 

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"Dê atenção ao que tem sintonia com você. E toque sua vida, sem agredir."

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