Me dá uma carona

Uma vez eu disse, tentando deixar claro que: roupas de marca, celular de última geração e carro do ano não me conquistariam. Me comprar com presentes caros e me levar em restaurantes finíssimos idem. Não estou à venda, não me interesso e pouco me importa a sua condição financeira. Não sei me comportar em lugares finos, não faço ideia pra que serve tantos talheres. Não entendo porque trocar de carro como se troca de cueca e portar milhares marcas de roupas e acessórios pra ser mais interessante. Ter aquele tipo de amor que faz de tudo pra provar pra todos que tem o melhor relacionamento possível, acho insuportável. Estar com alguém porque é mais conveniente, fora de cogitação. Mas não, amor. Com você não. Eu quero você desse jeito aí, com qualquer roupa. Eu quero olhar pra você e não pra sua etiqueta. De preferência nu, só pra mim. E tira esse relógio aí, pra quê? As horas só denunciam que logo logo você tem que ir. Então tira. Me dá uma carona aí nesse carro simples, só pra me levar pra longe dessa superficialidade toda que esse mundo se tornou. Você vem? Vem comigo. Você sabe sim, mas finge que não. Você sabe que me ganha quando presta atenção na minha roupa nova, na cor do meu esmalte e até dá palpite. 

É disso que eu gosto, sabe? De ter atenção, de ser percebida. Eu me apaixono um tiquinho mais por você quando você me segura pela cintura e diz só pra mim o que só eu preciso ouvir. E eu acho melhor assim, sabe? Gritar felicidade é um grande perigo. Por isso eu não me importo se não formos o casal mais bonito, mais comportado e meloso. Eu não me importo se na sexta-feira nós tiver que ir jantar numa lanchonete, e em alguma data especial você me dar uma caixinha de bombom ou qualquer coisa que me faça lembrar e adorar você. Não, amor. Eu não me importo. Eu só quero uma carona, pra gente sumir dessa gente que não quer ver a gente bem. Você me dá? E trás junto toda a simplicidade, eu só quero me encher daquilo que me quer bem, então vem, amor. Porque a gente encontra tudo quanto é porcaria nesse mundo. Só que encontrar alguém que faz a gente perder o medo de viver, aí é outra história... Me leva, vai. E eu juro que nem vou colocar nada na bagagem, só o necessário. Eu perdi as fotografias, as cartas e os bilhetinhos, mas esqueci que o mais importante eu havia guardado no coração. Então deixa, só faz esse carro andar comigo do lado do passageiro, mas que não seja passageira a nossa viagem. Me dá uma carona e me embala nesse amor, que está nas coisas mais simples, tão simples que quase nem enxergam. Mas ninguém gosta de nada simples, né amor? Eles querem luxo. Então deixa, sobra mais amor pra gente.