Agora você vê

Você vê agora. Ou melhor, você me vê agora, desfilando com ar vitorioso, disfarçando até o nariz em pé, erguido. Mas é porque agora você vê que eu não abaixo mais a vista, temendo te trombar na rua, temendo a sua presença em qualquer lugar que eu fosse. Agora você vê a mulher que eu me tornei, deixando de ser menina pedindo amor. Ao invés disso, passei a receber amor, passei a receber olhares admirados pela força que parei de fingir ter, e passei a ter realmente. E sabe o que é engraçado? É que de certa forma foi você quem acabou me dando essa força no fim das contas. E sabe o que eu fiz com todas aqueles "blá blá blás" que você me embalava e aquela tristeza que eu odiava carregar por ser sempre tão iludida? Tirei tudo de baixo do tapete e atirei tudo descarga abaixo. Pra não voltar, pra não me incomodar. Antes o que era receio, hoje é negação afirmativa: não faz falta, não quero pra mim.

Decidi radicalizar de vez. Te riscar da lista, apagar dos contatos e tirar da minha vida. Hoje é assim: não acrescenta, não serve. E você se inclui nesse novo dilema. Limpei o rímel borrado pelas noites de choro intermináveis, e refiz a maquiagem. Agora você vê, porque antes não via. E aposto que hoje se lamenta por ter me deixado escapar. Acontece que você sempre insistiu em trocar ouro por bijouteria, e agora tem que se contentar com os amores baratos dessa sua vida barata. Andam me falando por aí que você anda só, imagino se está na pior. Eu poderia desejar que sim, que não tenha ninguém flertando com você. Mas hoje não... Agora você pode e deve ver: tanto faz. Esse é o único sentimento que carrego hoje por alguém assim tão nem aí pra nada, um tanto faz, um "que seja" ou nem seja. Talvez eu fosse demais pra você, ou certa demais. E agora você vive com a dúvida que não te abandona, já que eu decidi jogar a toalha e largar tudo. E você vê agora a teoria fazer sentido: melhor um pássaro na mão do que muitos voando. E voando pra longe de você, e eu entrei nessa. Tirei os tênis e subi naquele salto que você imaginou que eu nunca levaria jeito para usar. Te surpreendi, não foi? Agora estou caminhando, mas para outro. Outro que não é você.