sábado, 28 de maio de 2011

Outono

E ainda que fosse tarde, eu ainda acreditava... Olhava pela janela toda aquela ladainha de desengano ir embora, finalmente. E ainda que não fosse percebível, de algum modo mais tarde faria sentido e assim se fez. Quem era eu pra duvidar que algo realmente estava para acontecer? Estava previsível o nosso encontro, ali, naquele instante, onde tudo não passava de detalhes à parte e não nos preocupamos em nos mostrar interessados naquele momento tão oportuno. Afinal, era o que mais queríamos, e até mesmo em silêncio éramos capazes de ouvir os sussurros dos nossos corações frenéticos - ora batiam forte, ora cessavam a ansiedade - chamando um ao outro, numa conversa que treinávamos há tempos. E tudo o que sabíamos era que a hora tinha chegado, e que era pra acontecer. E aconteceu. Os sorrisos tortos e o olhar tímido deixava no ar o gosto da inocência e descoberta, e como era recíproco o interesse de ambos... Todos já sabiam, até quem não sabia podia perceber e pra falar a verdade até nós mesmos sabíamos a muito tempo, desde o início. Eu que via minha vida passar toda em um filme repetitivo, sabendo de cor o que ia acontecer e no fim aprendendo a deixar meus sentimentos submissos a minha razão, agora vejo que assim como no fundo eu acreditava que poderia parar no lugar certo um dia, acredito que há chances de eu ficar aqui por muito mais tempo. Outonos passados nunca me pareceram tão passados como hoje me parece. Talvez porque nunca tenham passado de um presente, uma lembrança sem muitos detalhes, sensações guardadas e até esquecidas, palavras sumidas ao vento, atitudes pouco tomadas. O risco pode valer a pena, e não ter se precipitado fez tudo sair menos improvisado. 

Primavera passada achava que o percurso não me levaria em lugar algum, como se eu estivesse andando em círculos, entende? Era assim que parecia ser. Mas eu não estava. Se nas paradas que dei o lugar não me encaixava, nem as pessoas eram reais, eu só tinha que pagar a conta e continuar naquela trilha, embora me parecesse difícil demais conseguir enxergar o caminho cheio de terra. Entretato, eu teria que arriscar mesmo assim, talvez fosse questão de intuição, e até que deu certo esse negócio. Provavelmente meu pessimismo e falta de realismo me fizesse enxergar as casas erradas - quando eu as adentrava me deparava com a cena do desconhecido informando que eu havia batido na porta errada.  O problema era a minha procura incessante de um lugar para ficar, e tudo o que encontrava era uma moça desabrigada completamente perdida. E foi no verão passado que me surpreendi em perceber como as coisas passaram a funcionar quando eu realmente havia parado de procurar, parecia até que elas é que me encontrariam ao invés de mim a elas. Ainda que fosse tarde, ainda que eu houvesse perdido muito tempo presa à pessoas que não mereciam sequer espaço em mim, no fundo eu sempre soube que encontraria aquele que preencheria todos esses espaços desvalorizados e saberia ocupá-los bem. Que encontraria o essencial, aquele que faz todos os erros do passado e as mágoas valerem a pena. E a espera ainda mais. Porque naquela noite de outono, eu tive a certeza de que nenhum outro foi tão significativo quanto esse foi, quanto é e que eu sei que vai ser por muito tempo. Foi nesse outono que pude saber que isso é o que eu mais quero agora, depois e se não for pedir muito, sempre.

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"Dê atenção ao que tem sintonia com você. E toque sua vida, sem agredir."

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