Do clichê pra vida real

Decido ao fim de um romance clichê anotar em algum lugar que me faça lembrar de não assistí-lo, quando, manteiga derretida estou a ponto de me sensibilizar pelas mais bobeiras coisas: na tpm. Que romances clichês tocam sim o coração de toda mulher que os adoram em qualquer ocasião que lhes ofereça conforto e um pouco de tranquilidade - e uma carência absurda -, e ainda melhor, numa companhia masculina para lhes abraçar e fazê-las sentir-se como se suas vidas ao menos naquele instante, tenha uma relação com o filme. Sentir como se não fosse somente nos romances clichês que o coração ansioso espera pelo toque, pelo olhar e pelo beijo (ponto crucial dos suspiros). E ainda ao término, idealizar toda uma história como se a vida também fosse como nos filmes, ou acreditar que em algum momento os mundos se assemelhem. Doce ilusão, mas quem não carrega em si um pouco desse sentimento que outrora nos faz criar asas e voar dentro de nós mesmos? Qual seria a graça se não houvesse o ilusionismo pra nos desconectar um pouco desse troço pesado que é a realidade? Porque, romances clichês não são só histórias. Quem já parou pra pensar que talvez, essas histórias fossem escritas por quem já as vivenciou? Uma mistura de bom senso e comparações metafóricas, e tudo pronto pra viajar - como dizem - na maionese. Se for pra dar um choque de realidade em mim, que seja com eufenismo, pra não me assustar. Eu sei, essas coisas fazem parte, as decepções, o modo como nem sempre as coisas saem do jeito que esperamos. Mas aí está um problema no qual não sei se terei solução: esperar. Esperar pelo buquê de rosas que ele trará na minha porta depois de uma briga e vir se desculpar como nos filmes. Esperar pela noite fria e chuvosa no qual eu irei parar na casa dele e ao aquecer da lareira, forraremos colchões no chão bebericando um pouco do vinho tinto pela metade. Esperar também por ele correndo em meio a multidão do trem, pedindo pra mim não partir; ou pra não exagerar tanto na ilusão, ele correndo atrás de mim quando irritada bato o portão da casa dele indo embora bruscamente.
Sei lá, às vezes dá um gosto bom, aquele gostinho de alimentar essas cenas clichês típicas de filmes americanos uma hora dessas em algum capítulo da minha vida. Eu sei que é meio fora de moda ainda insistir nessa coisa de amor-de-novela, mas ainda vale acreditar que no meio de tanta gente moderna que inventam diversões passageiras e enganáveis, possa existir gente que se importa, que olha para o lados, que sorri e que olha nos olhos. Gente que gosta de gente, que chega perto, que senta no banco da praça e observa as outras pessoas se perder pelas ruas. Como curiosa e até enxerida, atrevo-me a adivinhar o que são por trás das inúmeras faces que carregam: as pessoas. Gosto de imaginar como elas levam a vida e se assim como eu, ainda acreditam no romantismo. Mesmo que os tempos de hoje não permita que as pessoas parem pra acreditar nessas coisas, embora parem pra acreditar em tudo quanto é baboseiras que inventam aqui ou acolá. Não sei quanto a elas sobre tal assunto, mas não o trocaria por nada, romantismo pra mim ainda é sinônimo de amor apaixonado, quanto mais careta, melhor - creio eu. É que, mesmo que a vida esteja sempre de flerte com a gente, não vale a pena deixar de lado as coisas bonitas que ela vezenquando trás pra nós, mesmo que pequenas e quase imperceptíveis. Até porque são pequenos detalhes que fazem uma grande diferença no nosso dia a dia; um bilhetinho, uma palavra sussurrada ao pé do ouvido, uma confissão guardada, mensagens no celular durante o dia (e por que não pela madrugada, também). Romantismo é saber deduzir o que o outro precisa e fazer de tudo pra agradar, sem deixar de ser quem é. É se preocupar e se importar, é amar sem pedir nada em troca e que a troca de afeto seja justa. Romantismo, em suma, é acreditar que ao cair, lá embaixo terá alguém pra te segurar. Ou cair junto.