sexta-feira, 13 de maio de 2011

Empoeirado

Era uma manhã monótona de um dia qualquer, falha-me de exato o dia, era meio de semana, tanto faz. No canto dos olhos, sentia os dele me observar, exatamente, há um ano atrás. E era estranho, pois não via algo de extraordinário em mim que pudesse chamar a atenção daqueles olhos curiosos. Mas talvez fosse a minha timidez, o nervosismo destacado no meu rosto. Carinha de ingênua, era como se eu pudesse assistir a mim mesma, sentada de camarote relembrando todo esse filme. E chegava a ser engraçado, talvez minha expressão fosse de garota-perdida, no que resultaria no olhar de interrogação na cara dele. E quem era ele? Um dia cheguei até a achar que fosse destino, olha só... Do esquema mal armado, surgiu as primeiras palavras, e sinceramente eu havia ficado feliz por terem sido palavras próprias, sem terceiros envolvidos. E as coisas em comum? Pra mim era estranho de repente encontrar por aí, um cara que curtisse apenas algumas músicas que eu também curtia, e talvez isso tenha abrido a porta pra fantasias que chegavam a ser absurdas e ridículas. Era um cara que eu não conhecia, e não comprava. Era do tipo que eu não queria chegar perto, não queria me envolver. Má impressão confesso que eu tive, e não posso negar que havia ficado surpresa quando vi sair da boca dele meia dúzia de palavras que não pareciam vir mesmo de alguém com aparência como a dele; de moleque, de sacana nem aí. E não precisou de muito para que eu me encantasse, e talvez tenha sido esse o problema, a ilusão de meias palavras e me encantar de primeira. Coisa de menina sonhadora. 

Foram os risos, tudo nele parecia tão sólido e real. E o beijo? Parecia até que iria durar, embora não tivesse cara de que duraria. Era como se eu sentisse que ele nunca fosse me soltar. Mas embora tenha sido breve, aquilo havia se intensificado em mim, de um jeito que ainda não consigo explicar. Tive certa de que não era paixão, e até não era mesmo, tampouco amor. Oras! Era encanto, daqueles tão fortes que chegava a ser extremamente incômodo. Não posso esquecer - e nem esqueço - do medo que senti. Tudo parecia bom demais, perfeito demais pra ser verdade... E não era. Nunca foi. Mas eu quis acreditar que poderia ser diferente, que talvez pudesse ser o certo. Talvez eu quisesse acreditar que eu também tinha o direito de ter um bom romance pra viver. Sabe, depois das decepções antigas eu preferi não me desiludir tanto, quis dar uma chance e talvez isso tenha feito eu me iludir mais do que devia, me envolver mais do que poderia. E nessa história que nunca teve sequer um começo, o fim havia chegado, de repente, da mesma forma que ele havia chegado em mim e foi embora sem aviso prévio, me deixando com as inúmeras perguntas que nunca obtiveram respostas. Estranho foi como eu me senti, como criança que perde doce, sem saber o que fazer. 

Aquela história clichê do cara que ilude a garota e depois vai embora, é quase isso. Confesso que fiquei a esperar por ele, e até hoje me pergunto porque cheguei a pensar que ele voltaria. E o mais ridículo foi eu estar convicta disso, no fundo. Tudo bobagem. E não foi a toa que bastou isso pra me fazer desistir de encantos, e desistir dos garotos. Não foi a toa que me esvaziei, que decidi não conhecer ninguém, não me interessar por ninguém; ficar impossível! E até que isso funcionou, até agora... Até eu encontrar, quase da mesma  forma, o cara que também deu os mesmos indícios que ele, e parando pra comparar os dois encontros, eles de certa forma são iguais. E isso me assusta. Tenho medo que a história se repita. Tenho medo do apego, e receio o desapego. E o pior, é a necessidade de não fugir disso, embora tenha a mesma probabilidade de não dar certo como não deu, uma vez que as histórias se parecem e uma  foi um caos. E aquele cara de um ano atrás que eu achava que conhecia bem, hoje não passa de um estranho que tudo o que sei é somente o nome. Não quero parecer a mesma garota-perdida, não quero me magoar pelo mesmo motivo. E, não quero ter que daqui um ano reler esse texto e ver que tudo aconteceu da mesma forma como temi que acontecesse, e tudo acabar em lembranças encaixotadas. Não quero que esse cara fique em uma estante, empoeirado como aquele.

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